martes, 22 de febrero de 2011

O menino que sobreviveu ao abutre e o fotógrafo que não sobreviveu à indiferença (a sua)

O medidor da nossa indiferença não é indiferente à frequência com que a realidade nos testa. E decidir em situação nem sempre é o mesmo que decidir em consciência.

Kevin Carter decidiu carregar no botão para contar a história do bebé desnutrido e do abutre espectante. A foto de 1993 (Sudão) foi publicada pelo The New York Times e ganhou o Pulitzer no ano a seguir. O fotógrafo suicidou-se.
O El Mundo foi resgatar esta história: o menino não chegou a servir de refeição ao abutre. Morreu quatro anos depois de febre.
Não pretendo defender o fotógrafo, que estas questões não me despertam julgamentos fáceis. O fotógrafo não salvou o menino, nem nenhum dos outros meninos que morrem à fome no Sudão e no resto do mundo, mas esteve lá e ter estado lá ajudou a combater a indiferença: a nossa. Ou talvez não... Porque dentro de segundos seguimos com a vida, a nossa vida a quilómetros do Sudão. E na mesma circunstância, o que faríamos?

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