jueves, 5 de agosto de 2010

"Taxi driver"

Os taxistas conhecem milhares de pessoas, o que por si só os torna pessoas potencialmente interessantes, já que podem assim sugar conhecimentos das "fontes" que vão transportando, observar comportamentos, às vezes, como se quase não estivessem ali, escutar conversas que são tidas como se eles fossem surdos...
Enfim, acho-lhes piada e muitas vezes sabe-me bem aquele paleio com fim anunciado.

Há uns tempos, um português foi para Nova Iorque conduzir um taxi e depois registou em livro algumas das conversas que teve... Não cheguei a lê-las, mas a ideia é bastante inspiradora...

Muitas das minhas conversas com taxistas começam pelo futebol, o que acontece geralmente quando joga um dos clubes portugueses nas competições europeias, e daí é um saltinho para o perspicaz "a menina é do Norte, nota-se" ou o desatento com pretensões de lisonja "já deve cá estar há muito tempo, que já perdeu a pronúncia" e daí desenrola a história da vida dele, de onde veio, que nem sempre foi taxista, que tem uma filha que também é jornalista, e que transportou já fulano e que "a Simone de Oliveira é assim mesmo, uma simpatia, uma mulheraça" e que "a Madonna andava de jipe com o marido e com os filhos, quando veio a Lisboa, a passear como qualquer pessoa"... E o fado, que muitos têm a rádio Amália sintonizada, um excelente piscar de olhos aos turistas, e gostam muito e percebem de fado... E outros que reclamam do estado desalmado em que Lisboa se pôs, com prédios seculares a gritar por socorro, como se desconfiassem que esse tema me dispõe para tagarelice tempo suficiente para fazer a volta a Portugal de taxi! Mais que ninguém, estão atentos às mudanças. O novo buraco na rua, a última inovação de desvio de trânsito! E são críticos. Muito. Candidato a presidente de CML com dois palmos de testa deveria conversar com taxistas, de preferência clandestinamente, para colher mais verdade do exercício...

Anteontem (desconfio que nunca tinha escrito esta palavra antes!)nem fui eu que comecei a conversa: "Já esteve em Porto Santo?" E eu respondi que lamentavelmente não, mas que iría um dia certamente. "Parece o deserto (no que ele afirma de calma e de infinitude, pensei eu), só tem praia e é linda", comentou, aconselhando-me a que fosse mesmo. E continuava para me dizer que tinha lido que já estavam a estudar a criação de cosméticos com base na areia e na água do Porto Santo, que alegadamante terá poderes curativos. "Que bom que aproveitem o que temos de bom", dizia e lembrou-me que "já se chegou a vender aquela água para os EUA", mas "era uma pequena empresa" e "razões políticas", as quais não teve tempo de precisar porque eu cheguei ao meu destino, "impediram que se continuasse a comercializar a água"...
Um manancial dans le taxi!

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